sábado, 13 de novembro de 2010

Futebol e ufanismo


1970 foi o ano da Copa do Mundo no México, e também o ano em que a máquina de propaganda do Regime Militar atingiu seu auge. Enquanto o "milagre econômico" brasileiro era anunciado à população e ao mundo todo, muitas pessoas eram mortas, torturadas e desaparecidas. Era uma época de relativo crescimento (ou estabilidade) no que diz respeito às questões financeiras e de muita expectativa com o Futebol. A mídia passava a todos a idéia do Brasil como um país próspero e feliz mas as armaduras do AI-5, instalado em 1968, não perdoavam ninguém.

Em janeiro de 1970 foram instaurados o Centro de Operações para a Defesa Interna (CODI) e os Departamentos de Operações Internas (DOI) , que juntos formavam o conhecido DOI-CODI, responsáveis pela prisão, tortura e mortes de centenas de líderes da oposição.

Sendo assim, o cenário nacional era de muita expectativa e, ao mesmo tempo, muito terror.

Os militares investiam em fortes propagandas para exaltar o Regime, e perceberam que poderiam aliar o Governo ao Futebol. Começaram então a comparar o Brasil à Seleção. O hino da Copa, "Pra Frente Brasil", ecoava nos rádios para noventa milhões e brasileiros, e ilustrava essa mensagem ufanista que queriam implantar. (Clique aqui para ouvi-la). A televisão, jornais, rádio e revistas estavam cobertos por mensagens alegres e encorajadoras para os guerreiros da seleção.

Naquele ano, contando com um elenco luxuoso composto por Pelé, Tostão, Rivelino, Jairzinho, Piazza, dentre outros, a Seleção Brasileira se tornou tri-campeã mundial de Futebol. Pela primeira vez os brasileiros puderam assitir aos jogos com transmissão televisiva, o que empolgava ainda mais as pessoas. A partir de então, o Governo se aproveitou mais ainda da situação para tirar vantagens para sí.


A taça Jules Rimet se tornou um feito heróico conseguido pelo País, e foi erguida pelo próprio presidente da época, Emílio Garrastazu Médici. A propaganda do Regime Militar nunca foi tão bem sucedida como nesse ano. A vitória da Seleção e a imagem heróica de seus jogadores eram diretamente associadas à properidade do Governo, desiludindo a muitos que não conheciam a realidade por trás das redes de um gol.

Médici e a taça

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