sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Música e protesto

A partir da década de 60, o rock foi uma das principais fontes inspiradoras das mudanças no comportamento dos jovens do mundo inteiro, e no Brasil não foi diferente. Principalmente após o Golpe Militar a cultura passou a caminhar junto com a política. As chamadas "Músicas de Protesto" se enquadravam dentro da Bossa Nova, que era o estilo musical popular na época. Diversos artistas se empenharam em exprimir a situação em que o país estava submetido, e as músicas foram possivelmente o instrumento mais marcante e influente.

Diversos artistas como Carlos Lyra, Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso e Geraldo Vandré se destacaram por suas músicas geniais, que delatavam a Ditadura. Até mesmo músicos que não estavam abertamente comprometidos com o movimento nacionalista exprimiam abordagens do tema, como Tom Jobim.

Nos festivais de música popular os artistas faziam a platéia delirar com as músicas de protesto. Exemplos de grande sucesso são as músicas "Arrastão", de Edu Lobo, "Roda Viva" e "Apesar de você" de Chico Buarque (essa última se tornaria o hino da resistência), "Disparada", "Caminhando" e "Pra não dizer que não falei de flores", de Vandré.

O III Festival de MPB deu início ao Tropicalismo, caracterizado por criticar a indústria cultural e satirizar o discurso nacionalista. As canções tropicalistas integravam também recursos não-musicais como o corpo, a letra, roupa, dança, etc.

Principalmente após a declaração do AI-5, a censura era muito forte. Os artistas tinham que ser extremamente ardilosos, criativos e ousados para conseguir dribla-la. Muitas músicas foram vetadas antes mesmo de serem exibidas, e outras eram proibidas após perceberem sua influência, que foi o caso da "Apesar de Você".

Alguns trechos de músicas que conseguiram passar da censura e chegar até os ouvintes (às vezes, não por muito tempo):

Cálice (Chico Buarque & Milton Nascimento)

"Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que nem me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado, eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa"

Alegria, Alegria (Caetano Veloso)

"Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e brigitte bardot
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou"

Apesar De Você (Chico Buarque)

"Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão.
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.
Apesar de você
amanhã há de ser outro dia. "

Prá não dizer que não falei de flores (Geraldo Vandré)

"Há soldados armados, amados ou não,
Quase todos perdidos de armas na mão,
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição:
De morrer pela pátria e viver sem razão,"

A Rita (Chico Buarque)

"A rita levou meu sorriso
No sorriso dela, meu assunto
Levou junto com ela o que me é de direito
Arrancou-me do peito e tem mais:
Levou seu retrato, seu trapo,
Seu prato, que papel!
Uma imagem de são francisco
E um bom disco de noel

A rita matou nosso amor de vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos, meus pobres enganos
Os meus vinte anos, o meu coração
E além de tudo me deixou mudo o violão"


Clique aqui para ouvir Chico Buarque falando sobre canções de protesto.

Para assistir um vídeo que contêm algumas músicas e informações sobre a censura clique aqui.

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