quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Jornalismo: culinária e poesia

Principalmente a partir da década de 70 a circulação de jornais no Brasil se intensificou. Começava o tempo da chamada Imprensa (ou Jornalismo) Alternativa. Se destacavam pelo seu formato diferenciado, em tablóide - que fez com que as primeiras edicões se chamassem Imprensa Nanica - e pela oposição à Ditadura Militar. Alternativo pode dizer respeito ao fato de não estar ligado à cultura dominante, mas também está ligado à opção de duas coisas reciprocamente excludentes: a única saída para uma situação difícil e o desejo de protagonizar transformações.

Como tudo que acontecia no país estava amordaçado, uma das únicas formas da sociedade tomar conhecimento da realidade do país era por meio da Imprensa Alternativa. A grande imprensa tinha apoiado o movimento de 64, no entanto agora alguns jornais, como o Correio da Manhã, passaram a criticar os aspectos autoritários do Governo. Os periódicos mostravam os crimes da Ditadura, as mortes dos presos políticos, torturas, violação dos direitos humanos, etc. Entretanto, não demorou muito para que a censura começasse a vetar tudo que era contra a "Lei da Segurança Nacional".

O censor ficava posicionado na redação dos jornais e só permitia a impressão daquilo que já tivesse sido lido e préviamente aprovado. Isso gerava muitos transtornos e atrasos nas publicações. Diante disso, os diretores se comprometeram a não colocar matérias que pudessem talvez ser censuradas em cadernos que não fossem o de política ou o nacional. Dessa forma, o censor passou a ler apenas essas editorias, permitindo que o resto do jornal já fosse impresso para publicação.

Na primeira notícia censurada em um jornal, foi deixado simplesmente um espaço em branco. Isso rapidamente se tornou uma crítica entre a sociedade, que percebeu que aquilo havia sido alvo de censura. Percebendo isso, o Estado proibiu que ficassem espaços em branco quando houvesse alguma matéria censurada, e portanto os jornais começaram a publicar poesias ou receitas de culinária nos espaços vazios. Ouvi dizer que tinha uma chamada "Brigadeiro de pijama". E para alguns jornais como "O Estado" nem isso era permitido, tinham que preencher o jornal com alguma outra coisa que não demonstrasse que houve censura.


Durante o Período Militar nasceram cerca de 160 periódicos, e abordavam tendências diferenciadas: políticos, satíricos, feministas, culturais, ecológicos, etc. Os que mais se destacaram foram "O Pasquim" e o "Opinião", do Rio de Janeiro. Também o "Movimento", em São Paulo e o "Resistência", em Belém, foram bastante expressivos.

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