quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Televisão e Ditadura, de braços dados.

Até meados da década de 60, ter um aparelho de televisão em casa não era para qualquer um. Somente as elites tinham acesso a essa tecnologia. Mas após a implantação da Ditadura, os militares perceberam que a televisão poderia ser um efetivo meio de comunicação do Regime. Contando sempre com a ajuda norte-americana, se tornou cada vez mais fácil adquirir um aparelho televisor. E o Governo aproveitava isso para propagar as idéias do Regime, para bem-dizer o país.

A televisão, principalmente após a implantação do AI-5, se tornou a porta-voz da ditadura. A ideologia da segurança nacional (para conter o perigo vermelho) e o desenvolvimento do país eram temas sempre frequentes. Todas as obras faraônicas (como a Ponte Rio-Niterói) eram anunciadas como os grandes feitos do Governo. Os horários-nobres eram sempre os momentos de difusão dos atos do Estado e do que se objetivava fazer.

Os canais que estavam no ar eram as Redes Tupi (permaneceu até 1980), Excelsior (ficou até 1970), Record e Cultura, que existem até hoje. A Rede Globo entrou no ar em 1965, com uma ajuda de US$ 5 milhões do Grupo Time Life. Durante todo o período a Globo foi vista como uma financiadora e ajudadora da Ditadura. O Jornal Nacional estreiou em 1969, período de maior endurecimento do Regime e já em 1970 era líder de audiência.

No entanto, alguns canais e/ou programas buscavam se manter contra ou, pelo menos, neutros, com relação à Ditadura. Mas era preciso "dançar conforme a música", e portanto não era tão fácil ir contra as idéias do Regime.

Uma declaração do presidente Médici demonstrou o que era a realidade passada pela televisão, em claro contraste com o que acontecia de fato no país:

"Sinto-me feliz, todas as noites, quando ligo a TV para ver o jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos, em várias partes do mundo, o Brasil marca em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante, após um dia de trabalho"

A alegoria do "pão e circo" ilustra muito bem a presença da televisão na vida dos brasileiros. A idéia de massificação e ausência de consciência das pessoas levava as emissoras a produzir conteúdos cheios de mensagens para serem decodificadas inconscientemente. Uma charge da época ilustrou muito bem essa idéia de "substituir o alimento pelo entretenimento". O prato vazio diante da televisão, mostrando que as pessoas eram levadas a se "alimentar" da mensagem televisiva.



A televisão buscava levar (em casos extremos, como a Globo, representada acima) à adulteração da consciência e da cultura, sintomas da indústria cultura e da cultura de massas. Era uma articulação entre bem-estar social e interesses do Estado.

Um comentário:

  1. Preciso fazer um trabalho escolar sobre a relação entre Ditadura Militar e TV por causa dos 50 anos do golpe e esse texto me ajudou muito. Obrigada!

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